O Facebook tornou-se uma fraude. Esta afirmação é forte, mas vão compreender, ao longo das linhas deste artigo (em conjunto com o vídeo), o porquê da mesma. Tudo passa por um elaborado e viciado esquema de publicidade que oferece ao Facebook duas fontes de rendimento e em que os seus clientes muito gastam e pouco ou nada beneficiam.
O Facebook assenta em duas traves-mestras distintas: o perfil pessoal para os utilizadores e as páginas profissionais (para as empresas, personalidades famosas, sites, etc). As pessoas registam-se, criam os seus perfis e fazem “Like” às páginas que lhes interessam para poderem seguir as suas publicações.
Aos donos das páginas interessa-lhes o maior número de seguidores, isto é: subscritores, ou em termos facebookianos: pessoas que fizeram “Like” à página. Conseguir o maior número de “Likes” numa página não é uma tarefa fácil. Há vários factores que contribuem para o sucesso desse objectivo. Uns controláveis, outros nem tanto.
Quando nada mais parece funcionar, sempre há a possibilidade de comprar “Likes”. De forma legal e de forma ilegal. Uma rápida pesquisa em qualquer motor de pesquisa oferece-nos várias opções se quisermos apostar na ilegalidade. Os sites que vendem “Likes” contratam pessoas em países sub-desenvolvidos (como a Índia, Bangladesh, Filipinas, Nepal, Sri Lanka, Egipto e Indonésia) para trabalhar em “Click Farms” (quintas de clique). Esses funcionários – imagine-se! – recebem 1 dólar por cada 1000 “Likes”.
Esta opção pelo lado escuro da lei é, no entanto, censurada e estritamente proibida pelo próprio Facebook. A rede social de Mark Zuckerberg oferece, todavia, uma opção legal. Podemos conseguir novos “Likes” fazendo publicidade às nossas páginas no próprio Facebook. Basta clicar no botão “Promover página” na administração da mesma, configurar um anúncio novo e estamos prontos.
No entanto, esta opção legal não o é… assim tanto. Rory Cellan-Jones, correspondente da BBC na área da Tecnologia, quis saber o valor de um “Like” e elaborou um simples teste. Criou a página de Facebook para uma empresa fictícia, a “VirtualBagel Ltd”. Um falso negócio que promovia a venda de pão bagel via Internet («faça o download do pão bagel e saboreie», era o slogan).
Para promover o seu negócio virtual, Rory recorreu ao sistema de promoção do Facebook. Como países-alvo do seu anúncio escolheu os Estados Unidos, o Reino Unido, Rússia, Índia, Egipto, Indónesia, Malásia e as Filipinas. Optou por pessoas com menos de 45 anos, interessados em culinária e electrónica e foi informado que o alcance da publicidade seria de 112 milhões de pessoas.
Minutos depois de a publicidade entrar no ar, começou a ter os primeiros “Likes” de pessoas interessadas num site sem sentido. Em 24 horas, Rory tinha gasto o seu orçamento de 10 dólares e conseguido 1.600 seguidores.
Mas quem eram estas pessoas? A VirtualBagel era extremamente popular no Egipto, Indonésia e nas Filipinas mas praticamente ninguém nos EUA ou no Reino Unido se mostrou interessado. Entre os novos fãs, o jornalista britânico encontrou personagens sui generis, nomeadamente um tal de… Ahmed Ronaldo. Alguém do Cairo, que trabalhava no Real Madrid e cujo perfil consistia apenas de fotos de Cristiano Ronaldo. O mais interessante, não obstante, era que Ahmed Ronaldo tinha feito “Like” a mais de 3.000 outras páginas, dos mais variados temas e assuntos.
A experiência continuou nos seguintes dias, com os países-alvo a serem redefinidos para EUA, Reino Unido e Índia. Mas apenas os indianos pareciam gostar de pão bagel fictício. Em 4 dias, o negócio falso tinha conseguido quase 3.000 fãs. Quando passou apenas a “alvejar” os EUA e o Reino Unido, os “Likes” deixaram de aparecer. Parecia que os anúncios no Facebook eram muito eficazes em certos países e nada eficazes em outros. Quem são estas pessoas que clicam em todos os anúncios que vêem na rede social e “gostam” de centenas, milhares de páginas fazendo com que o Facebook ganhe dinheiro através do seu sistema de anúncios?
Derek Muller, o australiano-canadiano criador do canal do YouTube Veritasium, fez uma experiência semelhante à de Rory Cellan-Jones. Criou uma página de Facebook vazia, fazendo questão de dizer: «quem fizer “Like” nesta página é um perfeito idiota». E os resultados foram mais ou menos iguais. Milhares de seguidores vindos de países em desenvolvimento e poucos de onde realmente interessava.
Mas qual é o problema de ter seguidores com perfis falsos?
Derek pagou também para promover a página do seu canal Veritasium e em pouco tempo tinha vinte vezes mais seguidores. Reparou que aquilo que publicava em vez de chegar a muito mais gente, agora que tinha muitos mais seguidores, chegava a… muitos menos. Porque o comportamento dos “Likes” falsos é muito diferente daquele dos reais seguidores. Dos 80.000 novos seguidores, a maior parte vinha dos países em desenvolvimento anteriormente referidos. E a sua interacção com as publicações da página era apenas 1%. Outros países diferentes tinham menos seguidores, mas interagiam bastante mais. Ter “Likes” falsos é pior do que não os ter, (devido ao factor viralidade* que o Facebook usa e que Derek explica no vídeo) porque prejudica que as novidades cheguem aos verdadeiros seguidores.
*“O factor viralidade” explica-se assim: Quando uma página (ou utilizador) faz uma publicação, esta aparece no feed de notícias de alguns dos seus fãs / amigos que estiverem online para que o Facebook possa medir o interesse das pessoas pela publicação. Esse interesse é medido pela interacção que mostrarem, através de Likes, partilhas e comentários. Quanto maior a interacção por parte de grupo de pessoas inicial, maior a importância da publicação. E quanto mais importante for, mais o Facebook a irá mostrar a mais e mais pessoas. Podendo-se tornar viral se continuar a conseguir muita interacção (sendo mostrada a ainda mais pessoas).
Quem sofreu com o sistema de publicidade do Facebook foi o U.S. State Deparment (Departamento de Estado Norte-Americano). Investiu 630.000 dólares para publicitar a sua página e em retorno ficou com apenas 2% de interacção dos seus seguidores.
Pior que este sistema ineficaz de publicidade do Facebook é a sua segunda fonte de rendimento. Como a interacção e o alcance das publicações já é reduzido (ainda por cima com milhares de seguidores falsos), a rede social oferece a possibilidade de se promoverem as próprias publicações, uma a uma. Assim, os donos das páginas pagam duas vezes. Uma para promover a sua página e conseguir mais seguidores, outra para que aquilo que publicam chegue à maior percentagem possível entre aqueles que já seguem… a própria página.
O que se pode concluir disto tudo?
Pegando no apresentado, estudando e analisando os dados estatísticos, vemos que a própria publicidade no Facebook se aproveita da exploração das pessoas que trabalham em quintas de clique. Porque estas clicam em tudo o que lhes aparece pela frente, quer seja as páginas que investiram na via ilegal de conseguir “Likes”; quer seja nos anúncios legítimos, mais que não seja para despistar qualquer indício de suspeita nestes esquemas.
A rede social de Mark Zuckerberg não toma medidas sérias para combater este problema e não leva a sério a existência de perfis falsos. Por vezes, informa que eliminou milhares de contas falsas, mas os “Likes” que esses perfis fizeram continuam a contar. Continuam e prejudicam as páginas e quem apostou na publicidade do Facebook.
A conclusão é simples.
1º – O sistema de publicidade para conseguir “Likes” do Facebook aproveita-se das “Click Farms” que os esquemas ilegais montaram e de perfis falsos para dar a sensação a quem investe que está a resultar. Mas não só não resulta efectivamente como acaba por prejudicar seriamente o alcance daquilo que é publicidado. (Um erro crasso.)
2º – Ao ver que as suas publicações não chegam a uma percentagem aceitável dos seus seguidores, os administradores das páginas, muitas vezes, optam por voltar a pagar ao Facebook para conseguir que o alcance daquilo que publicam chegue a mais pessoas. Gastam ainda mais dinheiro para corrigir o erro crasso de terem apostado em promover a página no Facebook.
Experiência pessoal
A minha experiência pessoal também reflecte os mesmos problemas. Usando os anúncios do Facebook, levei a página de um dos meus sites no Facebook de 10 mil a 50 mil fãs e, posteriormente, fiz esse número chegar perto dos 100 mil seguidores. (Actualmente conta com mais de 110 mil.)
Os resultados (confirmei-os “na pele”, infelizmente) foram desastrosos. O envolvimento* dos novos seguidores com a página é francamente baixo, para não dizer nulo. A ligação e proximidade dessas novas pessoas com a página, com o site e com a história e missão desse projecto é pior que má.
*“Envolvimento” ou “Interacção” é a minha tradução para Português do termo “engagement” adoptado como métrica das redes sociais. Aportuguesá-lo para “engajamento”, vão-me desculpar, mas… soa pessimamente. Não há necessidade de o fazer se temos palavras na Língua Portuguesa que têm o mesmo significado.
Como já referi em cima, é preferível não ter “Likes” do que tê-lo de perfis falsos, de perfis eliminados ou de pessoas que não estão interessadas. Se alguém remove o “Like” da nossa página, nem sempre é um mau sinal. Se a pessoa não interage com as nossas publicações é mesmo preferível que deixe de seguir a página. Doutra forma, está a prejudicar o alcance dos posts aos nossos mais fiéis fãs.
O alcance daquilo que partilho na página com os tais mais de 110 mil “Likes” é desesperador. Um link partilhado rende-me umas 10 visitas na melhor das hipóteses.
Se pudesse voltar atrás, jamais teria apostado na publicidade do Facebook. Pelas razões que descrevi em cima e pela minha experiência pessoal.
Fiquem com o vídeo de Derek Muller do canal Veritasium onde ele explica isto e muito mais sobre este esquema fraudolento e viciado que o Facebook usa para conseguir dinheiro dos utilizadores que mais conteúdo colocam nessa rede social.
Facebook Fraud
E vocês, que experiência tiveram com os anúncios do Facebook? Já compraram publicidade no Facebook? Como correu?